Enquanto em outros países cantores e músicos veteranos são prestigiados e respeitados, aqui perdem seu espaço e caem no ostracismo das churrascarias da vida. Os humoristas, porém, perduram no sucesso, ocupando horários nobres da TV. As piadas novas surgem abordando um acontecimento recente, andam o país todo e ninguém sabe quem as contou primeiro. Existem as clássicas, que nunca envelhecem, sendo passadas de geração em geração. Dois são os personagens principais: o português parvo e o papagaio velhaco. Com menos ibope vem em seguida o Juquinha, aluno safado, o japonês, ora tolo ora sagaz, os bichos, as bichas, o Bocage, hoje sem o brilho de algumas décadas atrás e outros menos votados.
A MPB, insuperável em sua versatilidade, não podia perder este filão e pretendo mostrar aqui como o compositor popular com sua criatividade transportou as anedotas para o cancioneiro.
Em 1929 Almirante compôs um cateretê chamado “Anedotas” com uma historinha bem infantil:
Um peixe que eu pesquei lá numa pescaria
Botei no galinheiro, ele acostumou
Ficou habituado que milho comia
Até junto com o galo que não estranhou.
E até pelo costume tinha liberdade,
E muita vez na mão foi que se alimentou.
Um dia (que eu maldigo) eu tive piedade
De ter tirado o peixe de onde se criou.
Levei-o para praia e fui jogar no mar,
Mas ele, ao que parece, disso não gostou,
Porque estando esquecido de saber nadar,
Coitadinho do peixe, n’água se afogou...
Fraquinha, hem. E vamos ao lusitano. Gariba na sua composição “Piada Boa” já dizia:
Já foi dito mais de uma vez
Piada pra ser boa
Tem que ser de português.
O telefone tocou pro Manoel
E o Manoel saiu armado
E foi pra Niterói
Mas na viagem ele refletiu
Na consciência nada me dói
Não sou Manoel, não sou casado
Eu sou é Joaquim
O que é que eu vou fazer em Niterói.
O fecho é sensacional:
Mas Joaquim
Que é a favor da economia
Aproveitou esse boato
Fez a barba e deu uma voltinha,
Pois lá em Niterói
É tudo mais barato.
É ou não é
Piada de salão
Se acham que não é
Então não conto não
Um sujeito que era gago
Procurou um botequim
Chegou perto do gerente
Outro gago bem ruim
E disse assim
Eu estou tô, tô, tô, tô
Aonde é que está tá tá
Mas o outro gaguejou
Chi! Tra, ra, ra, ra, ra.
Ê, ê, ê, ê, ê
Índio quer apito
Se não der
Pau vai comer
Lá no Bananal
Mulher de branco
Levou para índio colar esquisito
Índio viu presente mais bonito
Eu não quer colar
Índio quer apito.
Meu papagaio não concordou
Com uma anedota
Que alguém lhe contou
Tais anedotas
Não lhe convêm
O meu papagaio
É gente bem.
Curu paco, papaco, cocorocó
Vou contar mais uma
Umazinha só
Essa anedota é mais velha que a vovó
Um papagaio
Num balaio de galinha
Já ia perdendo a linha
Quando a censura chegou
O Costinha foi em cana
E o papagaio não cantou.
Chi!... Quase que eu caio
Quando você me contou
Aquela do papagaio
A piada é um estouro... pum!
Quá, quá, quá
Eu queira contar
Mas a censura não vai deixar passar.
Ê, ê, ê, ê, ê
Índio não quer mais apito
Índio agora quer casar.
Formiguinha, tive um sonho gozado
Formiguinha, eu estou apaixonado
Me dá, meu amor, me dá
O abraço quente que sonhei
O beijo ardente que eu não dei
Formiguinha, larga a dor no formigueiro
Vem ser minha
Num chorinho brasileiro
Me dá meu amor, me dá, me dá você
Você pra mim todinha.
Formiguinha:
Elefantinho
Quero ser a sua namorada
Num chorinho
Vou romper a madrugada
Me dá, meu amor, me dá
Esse beição tão bom
Que vem matar-me de amor por você.
Elefante:
Formiguinha
Vem pra dentro dos meus braços
Formiguinha:
Advinha se eu seguirei teus passos...
Me dá, meu amor, me dá
Me dá você pra mim todinho.
Só tinha canoa furada
No rio que transbordou
E não podendo passar
A formiguinha chorou
Nisso chega o elefante
E pergunta o que há
Se o problema é travessia
Sobe aqui eu vou pra lá
Formiga carona aceitou
E no meio da travessia
Trocaram juras de amor
Ao chegar do outro lado
Aconteceu o grande momento
O elefante pediu a formiguinha
Em casamento.
0 comentários:
Adoramos quando você deixa seu comentário e pedidos.
Mas qualquer conteúdo que tiver desrespeito, preconceito, palavrões, racismo será excluído imediatamente.